sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A união dos cristãos exige uniformidade?

O Conceito da Bíblia
A união dos cristãos exige uniformidade?
A RELIGIÃO moderna parece estar caracterizada pela desunião. Mesmo entre correligionários, parece haver um conflito de crenças em assuntos doutrinais e de conduta. Uma escritora expressou-se da seguinte forma: “É difícil até mesmo encontrar duas pessoas que acreditem no mesmo Deus. Atualmente, parece que cada ser humano tem sua própria teologia.”
Totalmente contrário a essa situação, o apóstolo Paulo exortou os cristãos do primeiro século a ‘falar de acordo’ e a ‘estar aptamente unidos na mesma mente e na mesma maneira de pensar’. (1 Coríntios 1:10) A admoestação de Paulo é criticada hoje. ‘As pessoas são diferentes’, argumentam alguns, ‘e é errado insistir que todos os cristãos pensem ou ajam da mesma maneira’. Mas será que Paulo estava mesmo recomendando o conformismo automatizado? A Bíblia dá margem para liberdade pessoal?
União, não uniformidade
Em outra de suas cartas, Paulo recomendou com firmeza aos cristãos que servissem a Deus com sua “faculdade de raciocínio”. (Romanos 12:1) Portanto, com certeza ele não estava tentando transformar os cristãos de Corinto em autômatos irracionais. Mas por que ele disse que os cristãos deviam estar “aptamente unidos na mesma mente e na mesma maneira de pensar”? Paulo deu esse conselho porque a congregação em Corinto estava passando por um problema grave. Haviam-se criado divisões, de forma que alguns consideravam Apolo como líder ao passo que outros estavam do lado de Paulo ou de Pedro e, ainda outros, apegavam-se apenas a Cristo. Essa desunião não era assunto de somenos importância, pois ameaçava a paz da congregação.
Paulo queria que os coríntios ‘observassem a unidade do espírito no vínculo unificador da paz’, assim como admoestou os cristãos em Éfeso algum tempo depois. (Efésios 4:3) Ele estava incentivando os irmãos a imitar a Jesus Cristo de maneira unida, e não estar divididos em grupos desunidos, ou seitas. Dessa forma, eles desfrutariam duma pacífica harmonia de propósito. (João 17:22) O conselho de Paulo aos coríntios serviu para reajustar a maneira de pensar deles e promover a união, não a uniformidade. — 2 Coríntios 13:9, 11.
A união também é importante em questões de doutrina. Os seguidores dos passos de Jesus dão-se conta de que há realmente “uma só fé”, assim como há “um só Deus e Pai”. (Efésios 4:1-6) Portanto, os cristãos certificam-se de que o que crêem esteja em harmonia com a verdade que Deus revelou na sua Palavra sobre si próprio e seus propósitos. Eles estão unidos na sua crença quanto a quem Deus é e quanto ao que ele espera de seus adoradores. Além disso, vivem à altura dos padrões de moral identificados claramente na Palavra de Deus. (1 Coríntios 6:9-11) Dessa forma, os cristãos permanecem unidos, tanto em questões doutrinais como morais.
Como lidar com as diferenças
Isso não significa, no entanto, que se diz a todo cristão exatamente como pensar e o que fazer em cada momento da vida. Grande parte dessas questões envolve decisão pessoal. Veja este exemplo: vários cristãos coríntios do primeiro século tinham certas reservas acerca de consumir carne que pudesse ter vindo de um templo de ídolos. Alguns acreditavam piamente que consumir essa carne equivaleria a um ato de adoração falsa, enquanto outros achavam que a procedência da carne era irrelevante. Ao lidar com essa questão delicada, Paulo não criou uma regra que ditasse aos cristãos o que fazer. Em vez disso, ele reconheceu que as pessoas poderiam tomar decisões diferentes sobre esse assunto.*— 1 Coríntios 8:4-13.
Os cristãos hoje podem tomar decisões diferentes uns dos outros em questões relacionadas a emprego, saúde, recreação e outros assuntos que envolvem decisão pessoal. Essas diversas possibilidades poderiam perturbar alguns, talvez imaginando que diferentes opiniões ou pontos de vista poderiam ocasionar disputas ou divisões na congregação. Contudo, é possível evitar esse desfecho. Para ilustrar: os músicos têm apenas uma quantidade limitada de notas para utilizar, mas são infinitas as possibilidades de combinações que resultam em lindas melodias. Da mesma forma, os cristãos fazem escolhas que estão dentro dos limites dos princípios bíblicos. No entanto, eles têm certa liberdade de ação ao tomar algumas decisões de caráter pessoal.
Como é possível preservar a união cristã e ao mesmo tempo respeitar as escolhas que outros fazem? A chave é o amor. O amor a Deus nos motiva a obedecer voluntariamente aos seus mandamentos. (1 João 5:3) O amor ao próximo nos motiva a respeitar os direitos de outros tomarem decisões conscienciosas em assuntos pessoais. (Romanos 14:3, 4; Gálatas 5:13) Paulo estabeleceu um excelente exemplo nesse aspecto quando se submeteu à autoridade do corpo governante do primeiro século numa questão doutrinal. (Mateus 24:45-47; Atos 15:1, 2) Ao mesmo tempo, ele incentivou a todos que respeitassem a consciência de concristãos em questões de decisão pessoal. — 1 Coríntios 10:25-33.
Obviamente, ninguém deve ser criticado por tomar uma decisão à base da sua consciência e que não infrinja princípios bíblicos. (Tiago 4:12) Por outro lado, cristãos leais não insistem em seus próprios direitos em detrimento da consciência alheia ou à custa da união da congregação. Muito menos fariam algo expressamente contrário à Palavra de Deus em nome da liberdade de ação. (Romanos 15:1; 2 Pedro 2:1, 19) O amor a Deus deve nos levar a harmonizar nossa consciência com o modo de pensar de Deus. Isso, por sua vez, nos manterá unidos com concrentes. — Hebreus 5:14.
[Nota(s) de rodapé]
Por exemplo, alguns cristãos que adoravam ídolos antes de se tornarem cristãos talvez não conseguissem distinguir entre comer carne e participar num ato de adoração. Outra preocupação válida era que cristãos mais fracos tirassem uma conclusão errada e tropeçassem.

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