sexta-feira, 2 de março de 2012

É quente o inferno?

“O HOMEM vai arder, arder, arder!” No auditório escurecido, o anunciante, com sua camisa em chamas, estende os braços e dá alguns passos em direção a seus ouvintes atônitos. Felizmente, essa demonstração dura apenas alguns segundos. Mas, com a ajuda de seu pó inflamável, o pregador conseguiu causar profunda impressão em sua assistência com sua evocação convincente do fogo do inferno.
Iguais a ele, muitos outros instrutores religiosos — especialmente na cristandade — afirmam que Deus reserva este destino eterno para os iníquos. Mas será realmente isto que a Bíblia diz?
Bons e Maus no Mesmo Lugar
“Os ímpios serão lançados no inferno e todas as gentes que se esquecem de Deus.” (Salmo 9:17, Almeida) Aqui, em vez da palavra “inferno”, as traduções mais modernas, tais como A Bíblia de Jerusalém e a do Pontifício Instituto Bíblico (margem) preferiram reter a palavra que aparece no texto hebraico, “Seol” (ou “Xeol”). Mas exatamente a que se refere o termo “inferno”, ou “Seol”?
O livro bíblico de Eclesiastes fornece mais informações sobre o Seol. Diz: “Tudo o que a tua mão achar para fazer, faze-o com o próprio poder que tens, pois não há trabalho, nem planejamento, nem conhecimento, nem sabedoria no Seol, o lugar para onde vais.” (Eclesiastes 9:10) Se aqueles que estão no inferno, ou Seol, não podem pensar nem saber nada, nem agir, por certo não podem estar sofrendo.
Não é surpreendente, então, que até servos fiéis de Deus tenham ido para o Seol. Jacó pensou que iria para lá quando morresse, e Jó esperava que Deus o escondesse ali, e, assim, pusesse fim a seus sofrimentos. (Gênesis 42:38; Jó 14:13) Teriam estes dois servos fiéis de Deus esperado — ou até pedido — ir para um inferno, que ardia e queimava, junto com os iníquos? Por certo que não!
O Que É o “Fogo”?
Mas como entendemos as palavras de Jesus, quando ele disse que aqueles que não fazem a vontade de Deus irão para “o fogo inextinguível”, ou para ‘a fornalha ardente em que haverá choro e ranger de dentes’? — Marcos 9:43-48; Mateus 13:42.
Ao falar sobre este lugar, Jesus não empregou a palavra “Hades”, o equivalente grego da palavra hebraica “Seol”. Antes, utilizou a palavra “Geena”. Esta palavra se referia a um depósito de lixo perto de Jerusalém, chamado de Vale de Hinom, onde se mantinha uma fogueira acesa para destruir o lixo. Era um termo apropriado para fazer que os ouvintes de Jesus pensassem, não no sofrimento eterno, mas na completa destruição, aniquilamento, pelo fogo.
A Revelação (Apocalipse) dada ao apóstolo João fala de um “lago que queima com fogo e enxofre”, no qual serão jogados todos os que praticam coisas más. (Revelação 21:8) Caso existisse o inferno, teria de ser este, visto que os iníquos vão para lá. Mas este mesmo livro bíblico nos conta que a morte, herdada de Adão, e o Hades, serão lançados neste mesmo lago de fogo. Podem sofrer estas duas coisas abstratas? Não. Mas o fogo ali pode representar, e representa deveras o seu desaparecimento, que ocorrerá uma vez tenham ‘entregue os mortos que há neles’, isto é, depois da ressurreição dos mortos. — Revelação 20:13, 14.
Estes últimos exemplos mostram que o fogo é apenas símbolo do aniquilamento, ou destruição eterna. Assim, não existe sofrimento algum no lago de fogo, ou Geena, assim como não existe no Hades (ou Seol), para onde vão fiéis servos de Deus, bem como gente iníqua. Mas, se formos um pouco mais a fundo no assunto, entenderemos melhor por que não podemos crer ao mesmo tempo no que a Bíblia diz e na existência do inferno de fogo.
Incompatível com a Personalidade de Deus
O que pensaria de genitores que encarcerassem seus filhos, dia após dia, ou até mesmo os torturassem? Se sentiria repulsa a tais atos, não deveria também sentir repulsa a um deus que atormentasse seus filhos para sempre no fogo?
Que o verdadeiro Deus não é assim é depreendido das censuras que dirigiu aos israelitas que ‘queimavam seus filhos e suas filhas no fogo’. Jeová insistiu que isto era uma ‘coisa que ele não havia ordenado e que não lhe havia subido ao coração’. (Jeremias 7:31) Visto que Deus jamais pensara em tais coisas, como poderíamos imaginar que ele criaria um inferno de fogo para suas criaturas? Sim, se a crueldade e a tortura nos causam repulsa, quanto mais devem causar a Deus, que é amor? — 1 João 4:8.
A doutrina do inferno de fogo também se choca com a justiça. Em sua carta aos Romanos, o apóstolo Paulo explica: “O salário pago pelo pecado é a morte.” (Romanos 6:23) Ademais, ele nos diz: “Aquele que morreu foi absolvido do seu pecado.” Se a morte remove completamente a dívida duma pessoa, por que, então, deveria ela sofrer eternamente por ter passado apenas seu curto período de vida em pecado? — Romanos 6:7.
Assim, A Bíblia mostra que o inferno de fogo, conforme geralmente entendido, não existe. E este conhecimento nos permite travar um relacionamento com Deus baseado em amor, e não no terror. Sugerimos que continue a examinar a Bíblia e aprenda como agradar a Ele devidamente, a fim de situar-se entre aqueles que verão aquele maravilhoso dia em que o Hades, ou Seol, a sepultura comum da humanidade, desaparecerá para sempre. — 1 João 4:16-18.
[Nota(s) de rodapé]
Em Atos 2:31, na citação ali feita do Salmo 16:10, usa-se a palavra grega “Hades” para traduzir a palavra hebraica “Seol”.
Alguns talvez indiquem o que Jesus disse sobre o rico e Lázaro, em Lucas 16:19-31, como prova do inferno de fogo. Mas, estas palavras de Jesus são uma parábola, e, por conseguinte, não devem ser tomadas em sentido literal. Para mais informações, queira ler o livro É Esta Vida Tudo O Que Há?, editado pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário