sexta-feira, 2 de março de 2012

“A vara da disciplina” — é antiquada?

A tolice está ligada ao coração do rapaz; a vara da disciplina é a que a removerá para longe dele.” — Provérbios 22:15.
“Qualquer punição física é um abuso emocional e não deve ser aprovada.” — Pais Anônimos.
A MENÇÃO da “vara da disciplina”, na Bíblia, atiça exaltadas controvérsias. Isto é compreensível, pois todo ano milhares de crianças morrem em resultado direto de abusos físicos por parte do pai ou da mãe. Talvez seja por isso que certa obra de comentários sobre a Bíblia considera a aprovação bíblica à punição física apenas como “opinião determinada culturalmente”.
Mas não foram opiniões culturais que inspiraram a Bíblia — Deus o fez. (2 Timóteo 3:16) São desarrazoados os comentários bíblicos sobre “a vara da disciplina”? É importante examinarmos “a vara” no contexto. Para ilustrar: as peças avulsas de um quebra-cabeça fazem pouco sentido. É só depois de montá-las que se vê todo o quadro. De modo similar, “a vara” é apenas uma peça do quebra-cabeça. Para ver todo o quadro, temos de harmonizar “a vara” com outros princípios bíblicos relacionados com a disciplina.
Conceito Equilibrado
Endossa a Bíblia apenas a punição física? Considere os seguintes conselhos:
• “Não tratem os seus filhos de tal maneira que eles fiquem irritados.”
• “Não irriteis os vossos filhos para que não caiam em desânimo.”
‘Isto é muito mais razoável do que o conselho da Bíblia’, alguns talvez digam. Mas estes são conselhos da Bíblia. Estão registrados em Efésios 6:4 (A Bíblia na Linguagem de Hoje) e Colossenses 3:21 (Missionários Capuchinhos).
Sim, o ponto de vista da Bíblia é razoável. Ela reconhece que a punição física em geral não é o método mais eficaz de ensino. Provérbios 8:33 diz: “Escutai a disciplina”, não diz: ‘Senti a disciplina.’ E Provérbios 17:10 salienta que “uma censura penetra mais em quem tem entendimento do que golpear cem vezes um estúpido”. Ademais, Deuteronômio 11:19 recomenda a disciplina preventiva, aproveitar momentos informais para incutir valores morais nos filhos. Portanto, o conceito bíblico sobre disciplina é equilibrado.
Que Dizer da “Vara”?
No entanto, a Bíblia realmente menciona “a vara” da disciplina. (Provérbios 13:24; 22:15; 23:13, 14; 29:15) Como se deve entender isto?
A palavra “vara” é tradução da palavra hebraica shé‧vet. Para os hebreus, shé‧vet significava cajado ou bastão, como o que era usado por pastores. Neste contexto, a vara de autoridade sugere orientação amorosa, não cruel brutalidade. — Salmo 23:4.
Shé‧vet muitas vezes é usada simbolicamente na Bíblia, para representar autoridade. (2 Samuel 7:14; Isaías 14:5) Quando diz respeito à autoridade parental, “a vara” não se refere exclusivamente a punição física. Abrange todas as formas de disciplina, que na maioria das vezes não precisa ser física. E, quando se recorre a disciplina física, em geral é porque outros métodos falharam. Provérbios 22:15 diz que a tolice está “ligada” (“agarrada”, Pontifício Instituto Bíblico; “enraizada”, Bíblia Mensagem de Deus) ao coração da pessoa que recebe disciplina física. Nisto está envolvido mais do que mera frivolidade infantil.
Como se Deve Administrar a Disciplina?
Na Bíblia, a disciplina está coerentemente ligada ao amor e à brandura, não à ira e à brutalidade. O conselheiro habilidoso deve ser “meigo para com todos, . . . restringindo-se sob o mal, instruindo com brandura os que não estiverem favoravelmente dispostos”. — 2 Timóteo 2:24, 25.
Portanto, a disciplina não é uma via de escape para as emoções do pai ou da mãe. Antes, é um método de instrução. Sendo assim, deve ensinar a criança que errou. Quando administrada em ira, a disciplina física ensina a lição errada. Atende à necessidade do pai, não à da criança.
Ademais, a disciplina eficaz tem limites. “Terei de castigar-te no devido grau”, diz Jeová a seu povo, em Jeremias 46:28. É especialmente vital lembrar disso ao se administrar disciplina física. Bater ou sacudir uma criança pode causar danos cerebrais ou até mesmo a morte. Ir além do objetivo da disciplina — corrigir e ensinar — pode levar ao abuso da criança.
A Bíblia não Promove Abusos
Antes de corrigir seu povo, Jeová disse: “Não tenhas medo, . . . pois eu estou contigo.” (Jeremias 46:28) A disciplina não deve fazer a criança sentir-se abandonada. Em vez disso, a criança deve sentir que o pai ou a mãe está ‘com ela’ como encorajamento amoroso e sustentador. Caso se ache necessário dar disciplina física, a criança deve entender por quê. Provérbios 29:15 diz que “a vara e a repreensão é que dão sabedoria”.
Infelizmente, muitos hoje usam “a vara” da autoridade parental de modo abusivo. No entanto, não se pode achar falha nos princípios equilibrados da Bíblia. (Veja Deuteronômio 32:5.) Ao considerarmos “a vara” no contexto, vemos que serve para ensinar crianças, não para abusar delas. Como em outros assuntos, a Bíblia se mostra “proveitosa para ensinar, para repreender, para endireitar as coisas, para disciplinar em justiça”. — 2 Timóteo 3:16.
[Nota(s) de rodapé]
Como Superar a Dor: Um Livro Para e Sobre Adultos Que Sofreram Abusos na Infância (em inglês) acautela: “Dar palmadas pode tornar-se abuso de criança quando isto é feito de modo descontrolado, com força suficiente para machucar. Dar pancadas usando certos objetos, socar, bater em crianças muito novas e golpear áreas vulneráveis (rosto, cabeça, estômago, costas, genitais) pode aumentar a probabilidade de a punição física tornar-se abuso de criança.”
O livro O Poder do Pai (em inglês), dos Drs. Henry Biller e Dennis Meredith, comenta: “Basta a punição física ser um tanto branda para que seja eficaz. Se vier de alguém amado pela criança e que ela sabe que a ama, o impacto emocional será suficiente para fazer a criança pensar no que fez.”

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