sexta-feira, 2 de março de 2012

Os ministros cristãos têm de ser celibatários?

CELIBATO é, a rigor, o estado de uma pessoa que se mantém solteira. Contudo, segundo The New Encyclopœdia Britannica, o termo “é geralmente empregado com relação ao papel do celibatário como autoridade eclesiástica, especialista religioso ou devoto”. O termo “celibatário” designa “os que se conservam solteiros em decorrência de um voto sagrado ou de um ato de renúncia, ou da crença de que o celibato é preferível por causa do cargo religioso ou do grau de seriedade religiosa da pessoa”.
Em uma ou outra época no passado, certas religiões proeminentes passaram a exigir o celibato de seus ministros. Mas no catolicismo, mais do que em qualquer outra religião da cristandade, o celibato virou quase uma marca registrada. Atualmente há uma grande polêmica em torno do celibato católico. A revista The Wilson Quarterly afirmou que “em décadas recentes, diversos estudos concluíram que o celibato obrigatório, exigência para os sacerdotes católicos desde o século 12, acha-se na raiz dos problemas da Igreja em recrutar e manter sacerdotes”. De acordo com o sociólogo Richard A. Schoenherr, “o pleno peso da história e das mudanças sociais está se revelando contrário à exclusividade dos celibatários no sacerdócio católico”. Como a Bíblia vê o celibato?
Casar ou permanecer solteiro?
No decorrer da história e em muitas religiões, incontáveis homens e mulheres devotos optaram pelo celibato. Por quê? Em muitos casos, porque criam que as coisas carnais, materiais, fossem “a sede do mal”. Isso deu origem à filosofia de que, para se alcançar a pureza espiritual, seria preciso abster-se totalmente do sexo. Esse, porém, não é o conceito da Bíblia. Na Bíblia, o casamento é visto como uma dádiva pura e santa de Deus. O relato de Gênesis sobre a criação apresenta, sem sombra de dúvida, o casamento como algo “bom” aos olhos de Deus; obviamente não como obstáculo a uma relação espiritualmente pura com Deus. — Gênesis 1:26-28, 31; 2:18, 22-24; veja também Provérbios 5:15-19.
O apóstolo Pedro e outros servos aprovados de Deus, que tinham cargos importantes na congregação cristã da antiguidade, eram casados. (Mateus 8:14; Atos 18:2; 21:8, 9; 1 Coríntios 9:5) As orientações que o apóstolo Paulo deu a Timóteo sobre a nomeação de superintendentes, ou “bispos” na congregação, deixam isso claro. Ele escreve: “Importa logo que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher.” (O grifo é nosso; 1 Timóteo 3:2, Figueiredo, versão católica.) Repare que nem sequer se insinua que fosse impróprio, em qualquer sentido, que um “bispo” fosse casado. Paulo apenas explicou que o “bispo” não podia ser polígamo; se fosse casado, deveria ter só uma esposa. Aliás, a Cyclopedia of Biblical, Theological, and Ecclesiastical Literature, de McClintock e Strong, conclui: “Não há nenhuma passagem no N[ovo] T[estamento] que possa ser interpretada como uma proibição ao casamento do clero sob a dispensação do Evangelho.”
Embora dê bastante valor ao casamento, a Bíblia certamente não condena que alguém, de livre vontade, permaneça solteiro. A Bíblia recomenda o estado de solteiro como algo desejável no caso de alguns. (1 Coríntios 7:7, 8) Jesus Cristo disse que alguns homens e mulheres optam espontaneamente por permanecer solteiros. (Mateus 19:12) Por quê? Não porque haja algo de inerentemente impuro no casamento que impediria seu desenvolvimento espiritual. Escolhem isso simplesmente para poder concentrar seus esforços em fazer a vontade de Deus em épocas que, no seu entender, são de urgência.
Origens do celibato obrigatório
As coisas mudaram, porém, nos séculos que se seguiram aos tempos de Cristo. Nos três primeiros séculos da Era Comum, “havia tanto ministros casados como não-casados”, explica David Rice, dominicano que largou o sacerdócio para se casar. A partir de então, os cristãos professos começaram a ser influenciados pelo que um escritor sobre religião chamou de “amálgama de idéias gregas e bíblicas” que levou a um conceito distorcido do sexo e do casamento.
Alguns, é claro, ainda se mantinham solteiros apenas “para ter total liberdade para devotar[-se] à obra do reino de Deus”. Outros, porém, eram motivados mais pelas filosofias pagãs que haviam assimilado. Diz The New Encyclopœdia Britannica: “A crença de que as relações sexuais são maculadoras e incompatíveis com a santidade emergiu [na professa igreja cristã] como motivação predominante da prática do celibato.”
No quarto século, diz Rice, a Igreja “proibiu que os sacerdotes casados tivessem relação sexual na noite anterior à celebração da Eucaristia”. Quando a Igreja fez da Eucaristia um ritual diário, isso significava que os sacerdotes tinham de abster-se de vez das relações sexuais. Com o tempo, proibiu-se o casamento de sacerdotes. O celibato tornou-se assim obrigatório para quem quisesse ser ministro na Igreja.
O apóstolo Paulo avisou que isso aconteceria. Ele escreveu: “O Espírito diz expressamente que nos últimos tempos alguns renegarão a fé, dando atenção a espíritos sedutores e a doutrinas demoníacas . . ., eles proibirão o casamento.” — 1 Timóteo 4:1, 3, A Bíblia de Jerusalém.
“A sabedoria é provada justa pelas suas obras”, disse Jesus Cristo. (Mateus 11:19) A tolice de desviar-se das normas de Deus é comprovada por suas obras, ou conseqüências. O autor David Rice entrevistou muitos sacerdotes de diversos países a respeito do celibato obrigatório. Alguns com quem ele falou disseram: “Você continua no sacerdócio, faz tudo o que puder de bom, e discretamente serve-se da prontidão de devotas que o admiram e se dispõem a ter relações sexuais com você.”
Citando Mateus 7:20, Rice declara: “‘Pelos seus frutos os reconhecereis’, disse Jesus.” Ele então comenta a tragédia causada pela imposição do celibato: “Os frutos do celibato obrigatório são milhares de homens que levam uma vida dupla, milhares de mulheres com vidas destruídas, milhares de crianças rejeitadas por seus pais ordenados, para não falar da dor dos próprios sacerdotes.”
O casamento honroso é uma bênção de Deus. A imposição do celibato mostrou-se espiritualmente prejudicial. Entretanto, optar de livre vontade por permanecer solteiro, embora não seja essencial para uma vida santa ou para a salvação, tem se mostrado um modo de vida gratificante e espiritualmente satisfatório para alguns. — Mateus 19:12.

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