sexta-feira, 2 de março de 2012

Protestos e manifestações — podem mudar o mundo?

“TEMOS de ter voz ativa, temos de ir para as ruas.” Este era o título de um editorial no jornal católico-romano National Catholic Reporter pouco antes do início da guerra do golfo Pérsico, em 1991. Incentivando os leitores nos Estados Unidos a participar em passeatas e manifestações pela paz, o editorial continuou: “Será preciso milhões de pessoas e o constante uso dos cachimbos da paz para se penetrar na ignorância e na arrogância dessa administração. O povo tem de ir para as ruas.”
Essas chamadas à ação são ouvidas com freqüência hoje. Diante de tantas crises políticas, econômicas e ambientais que ameaçam o bem-estar da humanidade, as pessoas se sentem compelidas a “ir para as ruas” em protestos, vigílias e manifestações. As questões vão do fim do crime nas comunidades ao estabelecimento da paz mundial. Vale notar que grande número dessas manifestações contam com o endosso de organizações eclesiásticas e de líderes religiosos.
No entanto, é correto que os cristãos participem nessas manifestações? E será que os protestos — na forma de passeatas tumultuosas ou de lúgubres vigílias à luz de velas — podem realmente mudar o mundo para melhor?
O conceito cristão das manifestações
As manifestações são descritas por certo sociólogo como “método especialmente eficaz de expressão política . . . para incitar autoridades não atuantes a tomar as necessárias ações”. Sim, aqueles que participam em passeatas de protesto ou que fazem manifestações geralmente o fazem na esperança de que seus esforços conjuntos corrijam as injustiças e a corrupção dos atuais sistemas sociais e políticos.
Mas que modelo Jesus Cristo deixou para seus seguidores? Jesus vivia na época em que o povo judeu estava sob a tirania do Império Romano. O povo certamente desejava muito a libertação do opressivo jugo romano. Jesus, porém, nunca incentivou seus seguidores a fazer uma manifestação, marchar em protesto ou ficar politicamente envolvidos de alguma outra maneira. Ao contrário, ele disse várias vezes que seus discípulos não deviam ‘fazer parte do mundo’. — João 15:19; 17:16; veja também João 6:15.
Similarmente, ao ser preso sem justa causa pelas autoridades, Jesus não tentou incitar um protesto, embora sem dúvida pudesse ter feito isso se o quisesse. Em vez disso, ele disse ao governador romano: “Meu reino não faz parte deste mundo. Se o meu reino fizesse parte deste mundo, meus assistentes teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas, assim como é, o meu reino não é desta fonte.” (João 18:33-36) Diante duma controvérsia, Jesus refreou-se de ações de protesto, reconhecendo a necessidade de não participar em assuntos políticos. E incentivou seus seguidores a fazer o mesmo.
Portanto, participar em manifestações viola o princípio básico da neutralidade cristã ensinado por Jesus. Além disso, a participação pode levar até mesmo ao envolvimento em outra conduta não cristã. Em que sentido? Manifestações feitas com boas intenções muitas vezes assumem um caráter decididamente rebelde, em que os participantes se tornam militantes, agressivos com abusos verbais ou violentos. Táticas ilegais e obstrucionistas talvez chamem atenção, mas não se harmonizam com a admoestação bíblica de ‘estar sujeito às autoridades superiores’ e ‘ser pacífico para com todos os homens’. (Romanos 12:18; 13:1) Em vez de estimular a desobediência civil, a Bíblia incentiva os cristãos a ter conduta excelente entre as nações e a permanecer sujeitos aos governos humanos, mesmo que as autoridades sejam difíceis de agradar ou desarrazoadas. — 1 Pedro 2:12, 13, 18.
‘Mas nem todas as manifestações são militantes ou violentas’, talvez se diga. É verdade, e algumas manifestações parecem produzir bons resultados. Mas podem os protestos — mesmo que pacíficos e por uma boa causa — realmente mudar o mundo para melhor?
Podem mudar o mundo?
Os cristãos têm profundo interesse no próximo e querem ajudá-lo. Mas será que participar em manifestações é realmente a melhor maneira de oferecer ajuda? O livro Demonstration Democracy diz: “Em qualquer instrumento de expressão política há um limite quanto ao que se pode conseguir.” Não se pode negar que a eliminação das aflições da humanidade requer mudanças que estão além do alcance de qualquer protesto ou passeata.
Jesus argumentou semelhantemente ao falar sobre o antigo sistema religioso dos seus dias. A respeito do sistema hipócrita de adoração praticado pelos fariseus, ele disse: “Ninguém costura um remendo de pano não pré-encolhido numa velha roupa exterior; pois a sua plena força o arrancaria da roupa exterior e o rasgão ficaria pior.” (Mateus 9:16) O que ele salientava? Que o genuíno cristianismo não se conformaria a sistemas iníquos e desgastados que estavam prestes a ser eliminados. Reconhecia que seria fútil remendar um sistema inútil.
Ocorre o mesmo com o sistema mundial que tem submetido a humanidade a séculos de injustiça, crueldade e opressão. Eclesiastes 1:15 explica incisivamente: “Aquilo que foi feito torto não pode ser endireitado.” Não, o sistema mundial de hoje não pode ser endireitado, apesar dos mais nobres esforços. Por que não? Porque, como diz 1 João 5:19, “o mundo inteiro jaz no poder do iníquo”, Satanás, o Diabo. Jesus indicou que esse é “o governante deste mundo”. (João 12:31) Enquanto esse sistema existir sob a influência de Satanás, reforma alguma trará alívio permanente.
Isso não significa que os cristãos sejam indiferentes aos problemas do mundo ou não estejam dispostos a tomar ação positiva. Na verdade, os cristãos são instruídos a ser bastante ativos, não em protestos, mas na obra de pregação e ensino das boas novas do Reino de Deus — o próprio governo do Reino pelo qual Jesus ensinou seus seguidores a orar. (Mateus 6:10; 24:14) A Bíblia mostra que o Reino não tentará recuperar esse mundo irreformável; eliminará completamente os governos iníquos e as organizações sociais que agora oprimem a humanidade e os substituirá por um sistema que pode estabelecer verdadeira justiça e retidão em toda a Terra. (Daniel 2:44) Sob esse sistema, ninguém terá de fazer passeatas de protesto, porque Jeová, que ‘satisfará o desejo de toda coisa vivente’, cuidará de que todas as necessidades sejam supridas plenamente. — Salmo 145:16.

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