sexta-feira, 2 de março de 2012

Os suicidas — terão ressurreição?

AS NOTÍCIAS trágicas dum suicídio não encerram um capítulo na vida dos parentes e dos amigos; antes, elas iniciam um — um capítulo de sentimentos confusos de piedade e ira, de pesar e culpa. E suscitam a pergunta: Podemos ter alguma esperança quanto a nosso amigo ou nossa amiga, que acabou com sua vida?
Embora jamais se possa justificar, e jamais seja justa a morte infligida a si próprio, o apóstolo Paulo apresentou uma linda esperança até para alguns injustos. Como ele disse a um tribunal romano: “Eu tenho esperança para com Deus, . . . de que há de haver uma ressurreição tanto de justos como de injustos.” — Atos 24:15.
Todavia, muitos teólogos há muito rejeitaram a sugestão de que a ressurreição dos injustos possa oferecer esperança para os que cometem suicídio. Por quê?
Teólogos Contradizem a Esperança de Ressurreição
William Tyndale identificou parte do problema no prefácio de sua Bíblia do século 16: “Ao colocar as almas que partiram no céu, no inferno, ou no purgatório, destruís os argumentos com os quais Cristo e Paulo provam a ressurreição.” Sim, séculos atrás, os eclesiásticos introduziram um conceito não-bíblico: as almas imortais que deixam o corpo, por ocasião da morte, vão direto para o céu, para o purgatório, para o Limbo, ou para o inferno. Tal conceito chocava-se com o ensino claro da Bíblia sobre uma ressurreição futura. Como perguntou o ministro batista Charles Andrews: “Se a alma já goza da beatitude celeste (ou já está justificadamente se assando no inferno), que necessidade existe de outra coisa?” Acrescentou ele: “Esta contradição interna continua a assolar os cristãos através dos séculos.”
Um dos resultados de tal teologia errônea foi que “desde os tempos de Agostinho [354-430 EC], a igreja tem condenado o suicídio como pecado”, afirma Arthur Droge, em Bible Review, de dezembro de 1989, “um pecado além de redenção, assim como a apostasia e o adultério”.
O duro veredicto de estar “além de redenção”, ou inapelavelmente consignado ao inferno de fogo, levava a extremo incerto o argumento de que o julgamento da pessoa é realizado por ocasião da morte. Admite o periódico National Catholic Reporter: “Dois dos maiores doutores da igreja alinharam-se contra o suicídio — Agostinho, chamando-o de ‘iniqüidade detestável e condenável’, e Aquino, indicando que se tratava dum pecado mortal [imperdoável] contra Deus e a comunidade — mas nem todos os eclesiásticos concordaram.”
Felizmente, podemos evitar tal “contradição interna” por aceitarmos duas verdades bíblicas compatíveis. A primeira, que “a alma que pecar — ela é que morrerá”. (Ezequiel 18:4) A segunda é que a verdadeira esperança para as almas (pessoas) mortas é viver de novo, mediante “uma ressurreição tanto de justos como de injustos”. (Atos 24:15) O que, então, podemos razoavelmente esperar quanto às pessoas que cometem suicídio?
Um Injusto a Ser Ressuscitado
Jesus disse a um criminoso sentenciado à morte: “Estarás comigo no Paraíso.” O homem era injusto — um violador da lei, em vez de uma infeliz vítima de suicídio — sendo culpado segundo a sua própria admissão franca. (Lucas 23:39-43) Ele não tinha esperança alguma de ir para o céu governar com Jesus. Assim, o Paraíso em que este ladrão poderia esperar retornar à vida seria a linda Terra sob o governo do Reino de Jeová Deus. — Mateus 6:9, 10; Revelação [Apocalipse] 21:1-4.
Para que fim Deus despertará este criminoso? Para que Ele, sem misericórdia, possa apresentar contra o criminoso os seus pecados passados? Dificilmente, pois Romanos 6:7, 23 diz: “Aquele que morreu foi absolvido do seu pecado”, e, “o salário pago pelo pecado é a morte”. Embora seus pecados passados não lhe sejam imputados, ele ainda necessitará do resgate para erguê-lo à perfeição.
Por conseguinte, o teólogo Albert Barnes estava errado e enganado quando asseverou: “Aqueles que fizeram o mal serão ressuscitados para serem declarados culpados ou condenados às penas eternas. Este será o objetivo de os ressuscitar; este e o único desígnio.” Quão indigno isso seria de um Deus de justiça e de amor! Antes, a ressurreição para a vida numa Terra paradísica dará a este ex-criminoso (e a outros injustos) uma excelente oportunidade de ser julgado pelo que fizer depois de sua ressurreição. — 1 João 4:8-10.
Oportunidade Misericordiosa
Amigos atônitos duma vítima de suicídio podem, assim, derivar conforto em saber que “Jeová tem sido misericordioso para com os que o temem. Porque ele mesmo conhece bem a nossa formação, lembra-se de que somos pó”. (Salmo 103:10-14) Apenas Deus pode entender plenamente o papel da doença mental, do stress extremo, até mesmo dos defeitos genéticos, numa “crise suicida”, que, conforme comentado pelo National Observer, “não é uma característica vitalícia, [mas,] com freqüência, apenas uma questão de minutos ou de horas”. — Veja Eclesiastes 7:7.
Admitamos que alguém que tira sua própria vida priva-se da oportunidade de arrepender-se de seu homicídio auto-infligido. Mas, quem pode afirmar se a pessoa impelida ao suicídio não mudaria de idéia caso falhasse sua tentativa fatal? Alguns notórios assassinos, com efeito, mudaram e granjearam o perdão de Deus enquanto ainda estavam vivos. — 2 Reis 21:16; 2 Crônicas 33:12, 13.
Assim, Jeová, tendo pago um “resgate em troca de muitos”, tem o direito de conceder misericórdia, mesmo a alguns que mataram a si mesmos, por ressuscitá-los e lhes dar a preciosa oportunidade de ‘se arrependerem e se voltarem para Deus por fazerem obras próprias do arrependimento’. — Mateus 20:28; Atos 26:20.
O Conceito Responsável e Bíblico Sobre a Vida
A vida é uma dádiva de Deus, e não algo do qual se deve abusar ou pôr fim, por suas próprias mãos. (Tiago 1:17) Assim sendo, as Escrituras nos incentivam a ver a nós mesmos, não como almas imortais, mas como valiosas criaturas do Deus que nos ama, que preza que estejamos vivos, e que aguarda com alegria o tempo da ressurreição. — Jó 14:14, 15.
O amor fortalece o nosso reconhecimento de que o suicídio — embora liberte a pessoa de suas cargas — apenas acumula mais problemas para os entes queridos que ficam. No que tange a alguém que precipitadamente tirou sua própria vida, nós, humanos, não podemos julgar se ele terá ou não ressurreição. Quão repreensível era? Somente Deus sonda ‘todos os corações e toda inclinação dos pensamentos’. (1 Crônicas 28:9) Mas, podemos estar confiantes de que ‘o Juiz de toda a Terra fará aquilo que é amoroso, justo e direito!’ — Gênesis 18:25

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