sexta-feira, 2 de março de 2012

A Bíblia desestimula a educação?

“SÓ OS IGNORANTES DESPREZAM A EDUCAÇÃO.” — Publilius Syrus, Moral Sayings (Ditos Morais), primeiro século AEC.
A BÍBLIA nos incentiva a ‘resguardar a sabedoria prática e o raciocínio’. (Provérbios 3:21) Jeová, que é a fonte do conhecimento, quer que seus adoradores sejam pessoas instruídas. (1 Samuel 2:3; Provérbios 1:5, 22) No entanto, certas passagens da Bíblia podem suscitar algumas perguntas. Por exemplo, falando sobre seus empenhos antes de se tornar cristão, que incluíam a instrução superior, o apóstolo Paulo escreveu: “Considero tudo como lixo.” (Filipenses 3:3-8, Bíblia Pastoral) Em outra carta inspirada, ele afirmou: “A sabedoria deste mundo é tolice perante Deus.” — 1 Coríntios 3:19.
Indicam essas passagens que a Bíblia desestimula a educação? Quanta instrução deve o cristão procurar obter? Basta ter a escolaridade mínima exigida por lei, ou deve-se estudar mais?
Instrução no primeiro século
Nem todos os cristãos do primeiro século tinham o mesmo grau de instrução. Certos homens de destaque consideravam os apóstolos galileus Pedro e João como “indoutos e comuns”. (Atos 4:5, 6, 13) Significava isso que os dois eram analfabetos ou iletrados? Não. Significava simplesmente que não haviam estudado nas escolas hebraicas de ensino superior em Jerusalém. O que esses dois notáveis e intrépidos defensores do cristianismo escreveram mais tarde mostra que eles tinham boa instrução, eram inteligentes, capazes de dar uma explicação clara das Escrituras. Sua instrução havia incluído um aprendizado prático que lhes dava condições de sustentar a família. Eram sócios no negócio evidentemente lucrativo da pesca. — Marcos 1:16-21; Lucas 5:7, 10.
Já Lucas, o discípulo que escreveu um dos Evangelhos, bem como o livro de Atos, era mais instruído. Ele era médico. (Colossenses 4:14) Seus conhecimentos médicos dão um toque distintivo aos seus escritos inspirados. — Veja Lucas 4:38; 5:12; Atos 28:8.
Antes de se tornar cristão, o apóstolo Paulo estudou direito judaico, e seu instrutor foi Gamaliel, um dos mais brilhantes eruditos da época. (Atos 22:3) A instrução de Paulo pode ser comparada à instrução universitária atual. Ademais, na sociedade judaica considerava-se dignificante um jovem aprender um ofício, mesmo que depois fizesse um curso superior. Evidentemente Paulo aprendeu o ofício de fabricar tendas quando jovem. Com esse ofício, ele se sustentou no ministério de tempo integral.
Não obstante, Paulo reconhecia que, em comparação com o valor superior do conhecimento de Deus, a educação secular — embora necessária — é de valor limitado. Concordemente, a Bíblia dá maior importância a se adquirir conhecimento de Deus e de Cristo. Convém aos cristãos hoje adotar esse conceito realista sobre a instrução secular. — Provérbios 2:1-5; João 17:3; Colossenses 2:3.
Analise cuidadosamente o assunto
No caso de alguns cristãos, a educação adicional, seja em forma de estudos acadêmicos ou cursos profissionalizantes, lhes deu condições de sustentar a família. Cuidar da família é correto, pois ‘fazer provisões para a família’ é um dever sagrado. (1 Timóteo 5:8) Adquirir as habilidades necessárias para isso é uma questão de sabedoria prática.
Mas os que acham necessário estudar além do básico para alcançar esse objetivo devem pesar os riscos e os benefícios. Os possíveis benefícios incluem a qualificação para conseguir um emprego que habilita a pessoa a sustentar a si mesma e a família de forma decente, ao passo que realiza o ministério cristão de forma zelosa. Além disso, ela pode estar em condições de ajudar a outros de forma material, ‘tendo algo para distribuir a alguém em necessidade’. — Efésios 4:28.
E quais são os possíveis riscos? Esses podem incluir expor-se a ensinos que minam a fé em Deus e na Bíblia. Paulo aconselhou os cristãos a se acautelar contra o “falsamente chamado ‘conhecimento’” e ‘a filosofia e o vão engano, segundo a tradição de homens’. (1 Timóteo 6:20, 21; Colossenses 2:8) Inegavelmente, expor-se a algumas formas de ensino pode prejudicar a fé do cristão. Os que pensam em estudar mais ou fazer cursos adicionais devem estar cientes do risco dessas influências nocivas.
Moisés, que foi ‘instruído em toda a sabedoria dos egípcios’, manteve forte fé apesar de receber instrução que sem dúvida incluía ensinos politeístas que desonravam a Deus. (Atos 7:22) Igualmente os cristãos hoje tomam cuidado para não se deixar levar por influências nocivas em qualquer ambiente onde se encontrem.
Outro possível perigo de buscar educação adicional é que o conhecimento enfuna, ou torna a pessoa convencida. (1 Coríntios 8:1) Muitos procuram conhecimento através da instrução por motivos egoístas, e mesmo a busca sincera de conhecimento pode resultar em sentimentos de superioridade e de se achar mais importante. Tais atitudes desagradam a Deus. — Provérbios 8:13.
Veja o caso dos fariseus. Membros dessa destacada seita religiosa se orgulhavam de sua erudição e suposta justiça. Eram bem versados no grande conjunto de tradições rabínicas, e desprezavam a plebe menos instruída, considerando-a ignorante, desprezível e até amaldiçoada. (João 7:49) Além disso, eram amantes do dinheiro. (Lucas 16:14) Seu exemplo ilustra bem que quando a motivação não é correta, a instrução pode tornar a pessoa orgulhosa ou gananciosa. Assim, ao decidir o que e quanto estudar, convém ao cristão analisar a sua real motivação.
Um assunto de decisão pessoal
Assim como no primeiro século, o nível de escolaridade entre os cristãos hoje varia bastante. Com a orientação dos pais, os jovens que concluem o ensino básico obrigatório talvez decidam estudar mais. Igualmente, adultos interessados em melhorar sua qualificação profissional a fim de fazer provisões para a família talvez queiram estudar mais para alcançar esse objetivo. Alguns aspectos da educação acadêmica tradicional enfatizam o desenvolvimento da capacidade intelectual em geral, não sendo cursos profissionalizantes. Assim, a pessoa talvez descubra que mesmo depois de ter investido bastante tempo em adquirir tal instrução, ela não tem uma profissão específica. Por essa razão, alguns decidem fazer cursos profissionalizantes ou estudar em colégios técnicos, preparando-se para ter maior facilidade para ingressar no mercado de trabalho.
De qualquer forma, essas são decisões de natureza pessoal. Os cristãos não devem julgar nem condenar outros nesse assunto. Tiago escreveu: “Quem és tu para julgares o teu próximo?” (Tiago 4:12) Se um cristão pensa em estudar mais, deve examinar sua própria motivação para ter certeza de não estar sendo levado por interesses egoístas e materialistas.
Fica claro que a Bíblia incentiva a se ter um conceito equilibrado sobre a educação. Os pais cristãos reconhecem o valor superior da educação espiritual baseada na Palavra inspirada de Deus e dão conselho equilibrado aos filhos com respeito à educação suplementar. (2 Timóteo 3:16) Tendo um conceito realista sobre a vida, reconhecem o valor da instrução secular para se adquirir as habilidades necessárias para que seus filhos adultos tenham condições de sustentar a si mesmos e à futura família. Portanto, ao determinar se vai estudar mais, e quanto mais, cada cristão poderá tomar decisões pessoais bem pensadas, baseadas em sua devoção a Jeová Deus, que é “proveitosa para todas as coisas, visto que tem a promessa da vida agora e daquela que há de vir”. — 1 Timóteo 4:8.

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