sexta-feira, 2 de março de 2012

Deus se importa com sua roupa e aparência?

“Assim como o índice revela o conteúdo do livro, . . . o hábito e os trajes, no homem e na mulher, refletem o espírito de quem os veste.” — Philip Massinger, dramaturgo inglês.
NO TERCEIRO século EC, o escritor eclesiástico Tito Clemente elaborou uma longa lista de normas determinando o que vestir e como se arrumar. Foi proibido o uso de enfeites e de tecidos finos ou coloridos. As mulheres não deviam tingir o cabelo nem “passar no rosto artifícios sedutores de astúcia ardilosa”, isto é, “usar maquiagem”. Os homens eram instruídos a rapar a cabeça porque “o cabelo tosado . . . mostra que o homem é sério”, mas deviam deixar a barba crescer porque “ela confere dignidade e impõe respeito”.
Séculos mais tarde, o líder protestante João Calvino promulgou leis especificando a cor e o tipo de roupa que seus seguidores podiam usar. Jóias e rendas não eram vistas com bons olhos, e uma mulher podia ser presa por usar um penteado “de altura imoral”.
Tais conceitos radicais, defendidos por líderes religiosos no decorrer dos anos, fizeram com que muitos indivíduos sinceros perguntassem: Será que Deus se importa com a minha roupa e aparência? Desaprova ele certas modas ou o uso de maquiagem? O que a Bíblia ensina?
Um assunto pessoal
É interessante notarmos o que Jesus disse aos seus discípulos, conforme registrado em João 8:31, 32: “Se permanecerdes na minha palavra, . . . conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” De fato, as verdades ensinadas por Jesus visavam libertar as pessoas dos fardos opressivos criados pela tradição e pelos ensinos falsos. O objetivo era revigorar os ‘que labutavam e estavam sobrecarregados’. (Mateus 11:28) Nem Jesus nem seu Pai, Jeová Deus, desejam controlar a vida das pessoas a ponto de elas não poderem tomar a iniciativa em usar sua própria faculdade de raciocínio em questões pessoais. Jeová quer que elas se tornem pessoas maduras, “que pelo uso têm as suas faculdades perceptivas treinadas para distinguir tanto o certo como o errado”. — Hebreus 5:14.
Assim, a Bíblia não contém leis detalhadas sobre roupa, modo de se arrumar e o uso de cosméticos. A única exceção a isso são algumas especificações sobre trajes impostas pela Lei mosaica aos judeus, com o objetivo de ajudá-los a manter-se separados das nações vizinhas e de sua influência imoral. (Números 15:38-41; Deuteronômio 22:5) No sistema cristão, a roupa e a aparência são basicamente uma questão de preferência pessoal.
Mas isso não quer dizer que para Deus não faz diferença o que vestimos, ou que tudo seja aceitável. Pelo contrário, a Bíblia contém orientações razoáveis que refletem o ponto de vista de Deus sobre a roupa e a aparência.
“Com modéstia e bom juízo”
O apóstolo Paulo escreveu que as mulheres cristãs deviam ‘adornar-se em vestido bem arrumado, com modéstia e bom juízo, não com estilos de trançados dos cabelos, e com ouro, ou pérolas, ou vestimenta muito cara’. Similarmente, Pedro aconselha contra “o trançado externo dos cabelos e o uso de ornamentos de ouro”. — 1 Timóteo 2:9; 1 Pedro 3:3.
Será que Pedro e Paulo estão dizendo que os cristãos, homens e mulheres, devem evitar cuidar da aparência? De forma alguma! De fato, a Bíblia menciona homens e mulheres fiéis que usaram jóias ou óleos cosméticos e perfumes. Antes de sua audiência com o Rei Assuero, Ester submeteu-se a um prolongado tratamento de beleza, com óleos perfumados e massagens. E José vestia-se de linho fino e usava um colar de ouro. — Gênesis 41:42; Êxodo 32:2, 3; Ester 2:7, 12, 15.
A frase “bom juízo”, usada por Paulo, ajuda-nos a entender a admoestação. A palavra grega original denota moderação ou controle. Implica ter um conceito sóbrio de si mesmo, sem chamar indevida atenção. Outras versões da Bíblia traduzem essa palavra como “discrição”, “bom senso”, “sobriedade”. Essa qualidade é um requisito importante para os anciãos cristãos. — 1 Timóteo 3:2.
Assim, ao nos dizer que a roupa e a maneira de nos arrumar deve ser modesta e bem arrumada, as Escrituras nos incentivam a evitar quaisquer estilos extremistas que ofenderiam a outros e refletiriam mal sobre nós e sobre a congregação cristã. Em vez de chamar atenção para a sua aparência por meio de adorno físico, os que professam reverenciar a Deus devem demonstrar bom juízo e dar mais importância à “pessoa secreta do coração, na vestimenta incorruptível dum espírito quieto e brando”. Isso, conclui Pedro, “é de grande valor aos olhos de Deus”. — 1 Pedro 3:4.
Os cristãos são um “espetáculo teatral para o mundo”. Precisam cuidar da impressão que causam, especialmente em vista da ordem de pregar as boas novas. (1 Coríntios 4:9; Mateus 24:14) Assim, não devem deixar que nada, incluindo sua aparência, desvie a atenção de outros de ouvir essa mensagem vital. — 2 Coríntios 4:2.
Embora os estilos variem bastante de um lugar para outro, a Bíblia dá orientações claras, razoáveis, que permitem que a pessoa faça uma escolha sábia de roupa. Contanto que se sigam esses princípios, Deus, no seu amor, permite que cada um se vista e se arrume de acordo com sua preferência.
[Nota(s) de rodapé]
Fez-se um esforço para validar essas interdições por distorcer as Escrituras. Embora a Bíblia não diga nada disso, o influente teólogo Tertuliano ensinava que visto que uma mulher foi a causa “do primeiro pecado, e a ignomínia . . . da perdição humana”, as mulheres deviam andar “como Eva, pesarosas e arrependidas”. De fato, ele insistia que uma mulher naturalmente bonita devia até mesmo esconder sua beleza. — Note Romanos 5:12-14; 1 Timóteo 2:13, 14.

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