sexta-feira, 2 de março de 2012

É errado pronunciar o nome de Deus?

HÁ SÉCULOS o judaísmo ensina que o nome divino, Jeová, é sagrado demais para ser pronunciado. (Salmo 83:18) Muitos teólogos ponderam que é desrespeitoso dirigir-se ao glorioso Criador de forma tão familiar, ou até mesmo que isso é uma violação do terceiro dos Dez Mandamentos, que proíbe ‘tomar o nome do Senhor em vão’. (Êxodo 20:7, Almeida, revista e corrigida) No terceiro século EC, a Míxena declarou que ‘aquele que pronuncia o Nome divino assim como está escrito não tem parte no mundo vindouro’. — Sanhedrin 10:1.
É interessante que muitos eruditos da cristandade seguem a essência dessa tradição judaica ao traduzir a Bíblia. Por exemplo, o prefácio de The New Oxford Annotated Bible comenta: “O uso de um nome próprio para o Deus único e exclusivo, como se houvesse outros deuses dos quais o Deus verdadeiro tivesse de ser distinguido, foi descontinuado no judaísmo antes da era cristã e é impróprio para a fé universal da Igreja Cristã.” Por isso, naquela tradução da Bíblia usa-se a palavra “LORD” (“SENHOR”) em lugar do nome divino.
Qual é o conceito de Deus?
Mas será que os conceitos desses tradutores e teólogos refletem o ponto de vista de Deus? Afinal, Ele decidiu não esconder seu nome da humanidade, mas revelou-o a nós. Na parte hebraica da Bíblia, comumente chamada de Antigo Testamento, o nome de Deus, Jeová, aparece mais de 6.800 vezes. O registro bíblico mostra que o primeiro casal humano, Adão e Eva, conhecia e usava o nome de Deus. Após dar à luz o primeiro filho, Eva proclamou: “Produzi um homem com o auxílio de Jeová.” — Gênesis 4:1.
Séculos mais tarde, quando foi convocado por Deus para liderar a nação escravizada de Israel para fora do Egito, Moisés perguntou: “Suponhamos que eu vá ter com os filhos de Israel e deveras lhes diga: ‘O Deus de vossos antepassados enviou-me a vós’, e eles deveras me digam: ‘Qual é o seu nome?’ O que hei de dizer-lhes?” Moisés talvez imaginasse que Deus revelaria um novo nome. Mas Ele lhe disse: “Isto é o que deves dizer aos filhos de Israel: ‘Jeová, o Deus de vossos antepassados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó enviou-me a vós.’ Este é o meu nome por tempo indefinido e esta é a recordação de mim por geração após geração.” (Êxodo 3:13, 15) É óbvio que o Deus verdadeiro não achava que seu nome fosse sagrado demais para ser pronunciado pelo seu povo.
De fato, servos fiéis de Deus, de várias gerações, pronunciaram aberta e respeitosamente o nome divino. Boaz, servo leal de Deus, regularmente cumprimentava seus trabalhadores no campo com as palavras: “Jeová seja convosco.” Será que os trabalhadores ficavam chocados com esse cumprimento? Não. O relato diz: “Eles, por sua vez, diziam-lhe: ‘Jeová te abençoe.’” (Rute 2:4) Em vez de encarar esse cumprimento como uma afronta a Deus, encaravam-no como um modo de dar-Lhe glória e honra em seus afazeres diários. Do mesmo modo, Jesus ensinou seus discípulos a orar: “Nosso Pai nos céus, santificado seja o teu nome.” — Mateus 6:9.
O terceiro mandamento
Mas como se aplica a proibição mencionada no terceiro dos Dez Mandamentos? Êxodo 20:7 declara enfaticamente: “Não deves tomar o nome de Jeová, teu Deus, dum modo fútil, pois Jeová não deixará impune aquele que tomar seu nome dum modo fútil.”
O que exatamente significa tomar o nome de Deus “dum modo fútil”? A obra de referência The JPS Torah Commentary, da Sociedade Publicadora Judaica, explica que o termo hebraico traduzido acima como “dum modo fútil” (lash‧sháw’) pode significar “em falsidade” ou “inutilmente, em vão”. A mesma obra continua: “A ambigüidade [desse termo hebraico] permite proscrever [proibir] o perjúrio de partes contrárias num processo judicial, proibindo juramentos falsos e o uso desnecessário ou frívolo do Nome divino.”
Esse tratado expositivo judaico destaca corretamente que ‘tomar o nome de Deus dum modo fútil’ envolve usá-lo de modo impróprio. Mas será que se pode corretamente chamar de “desnecessário ou frívolo” pronunciar o nome de Deus ao ensinar outros sobre Ele ou ao orar ao Pai celestial? Jeová expressa seu conceito nas palavras do Salmo 91:14: “Visto que ele se afeiçoou de mim, eu também o porei a salvo. Protegê-lo-ei por ele ter chegado a conhecer meu nome.”
Faz diferença?
A tradução The Five Books of Moses, de Everett Fox, em inglês moderno, rompe com a tradição. Essa tradução não usa a palavra tradicional “LORD” (“SENHOR”), mas “YHWH” para representar o nome de Deus “devido ao desejo de refletir a sensação do leitor hebreu”. Fox ressalta: “O leitor notará imediatamente que o nome pessoal do Deus da Bíblia aparece nessa obra como ‘YHWH’.” Ele admite que ver o nome de Deus pode “perturbar” o leitor. Mas, depois de tomar a atitude elogiável de não esconder o nome de Deus na tradução, ele acrescenta: “Recomendo que se use o tradicional ‘SENHOR’ na leitura em voz alta, mas outros talvez queiram seguir seu próprio costume.” Trata-se, porém, de mera questão de escolha pessoal, de tradição ou de seguir o próprio costume?
Não. A Bíblia não somente incentiva o uso correto do nome de Deus, mas também ordena isso. Em Isaías 12:4a, descreve-se o povo de Deus clamando de forma bem clara: “Agradecei a Jeová! Invocai o seu nome.” Além disso, o salmista fala dos que merecem o julgamento desfavorável de Deus: “Derrama teu furor sobre as nações que não te conheceram e sobre os reinos que não invocaram teu próprio nome.” — Salmo 79:6; veja também Provérbios 18:10; Sofonias 3:9.
De modo que, embora alguns evitem pronunciar o glorioso nome de Jeová por entenderem mal o terceiro mandamento, os que realmente amam a Deus procuram invocar Seu nome. Assim, em toda oportunidade apropriada, ‘tornam conhecidas entre os povos as Suas ações, fazem menção de que Seu nome deve ser sublimado’. — Isaías 12:4b.
[Nota(s) de rodapé]
Na parte hebraica da Bíblia (Antigo Testamento), o nome de Deus é representado por quatro letras que podem ser transliteradas como YHWH (IHVH, ou JHVH). Embora a pronúncia exata do nome de Deus seja desconhecida, em português é mais comum pronunciá-lo “Jeová”.

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