sexta-feira, 2 de março de 2012

Os cristãos devem ser favoráveis à pena de morte?

“É MORAL e eticamente errado.” “É correto e justo.” Esses pontos de vista contrastantes são de dois clérigos, ambos nominalmente cristãos. Eles discutiam uma das questões mais prementes da atualidade: a pena capital. O jornal que citou o que eles disseram comentou: “Quando líderes religiosos debatem a pena de morte, ambos os lados citam passagens bíblicas para apoiar sua posição.”
Há quem argumente que a pena capital protege o inocente, promove a justiça e coíbe a prática de crimes graves. E há quem insista em que isso é imoral — uma maneira de pagar violência com mais violência e algo que é bem inferior à tarefa mais nobre de reabilitar os criminosos e ajudá-los a tornar-se membros úteis da sociedade.
Na arena política, nos Estados Unidos, é que o debate é realmente acirrado, e os líderes religiosos não hesitam em envolver-se. Mas você talvez queira saber se a Bíblia tem alguma coisa a dizer sobre a pena capital. Tem, sem dúvida!
“A espada” foi dada às autoridades humanas
Pouco depois do Dilúvio dos dias de Noé, Jeová Deus confirmou a preciosidade da vida humana e disse: “Quem derramar o sangue do homem, pelo homem será derramado o seu próprio sangue.” (Gênesis 9:6) Naturalmente não se tratava de uma licença sem restrições para vingança. Significava, sim, que as autoridades humanas devidamente constituídas dali em diante teriam permissão para executar a pessoa que tirasse a vida de outro ser humano.
No Israel antigo, a Lei dada por Deus mediante Moisés estipulava a pena de morte para certas transgressões graves. (Levítico 18:29) Mas também assegurava julgamentos imparciais, o depoimento de testemunhas oculares e restrições à corrupção. (Levítico 19:15; Deuteronômio 16:18-20; 19:15) Os juízes deviam ser homens devotados e tinham de responder ao próprio Deus por suas decisões! (Deuteronômio 1:16, 17; 2 Crônicas 19:6-10) Vê-se que havia dispositivos para impedir abusos da pena de morte.
Hoje nenhum governo na Terra representa de fato a justiça divina como o Israel antigo. Mas os governos agem, de muitos modos, como ‘ministros’, ou agentes, de Deus, no sentido de que preservam certa medida de ordem e estabilidade e providenciam serviços públicos. O apóstolo Paulo lembrou aos cristãos que fossem obedientes a essas “autoridades superiores” e acrescentou: “Se fizeres o que é mau, teme; porque não é sem objetivo que [o Estado] leva a espada; pois é ministro de Deus, vingador para expressar furor para com o que pratica o que é mau.” — Romanos 13:1-4.
“A espada” que Paulo mencionou simboliza o direito do Estado de punir os criminosos — mesmo com a morte. Os cristãos respeitam esse direito, mas deveriam querer ter voz ativa em como ele é usado?
Mau uso da “espada”
Os governos humanos com certeza já empunharam “a espada” pela causa da justiça muitas vezes. Mas é preciso admitir que também são culpados de usá-la mal. (Eclesiastes 8:9) O governo da Roma antiga foi culpado de empunhar “a espada” da execução judicial contra inocentes servos de Deus. João, o Batizador, Tiago, e até Jesus Cristo, foram algumas das suas vítimas. — Mateus 14:8-11; Marcos 15:15; Atos 12:1, 2.
Ocorre algo semelhante na atualidade. Pessoas inocentes, servos de Jeová, foram executadas em vários países (e isso ainda acontece) — por pelotão de fuzilamento, guilhotina, forca, câmara de gás — tudo feito “legalmente” por governos que tentam suprimir o cristianismo. Todos os governos que abusam de sua autoridade prestarão contas a Deus. Quanta responsabilidade têm pelo sangue dessas pessoas! — Revelação (Apocalipse) 6:9, 10.
Os genuínos cristãos estremecem diante da idéia de ser culpados, aos olhos de Deus, pela morte de alguém. Por isso, embora respeitem o direito do Estado de empunhar “a espada”, sabem muito bem que ela às vezes é mal usada. Ela vez por outra serve como instrumento de perseguição e também chega a ser empunhada, contra alguns, com um rigor motivado por preconceitos e, contra outros, com indevida indulgência. Então qual é a reação dos cristãos com relação ao debate sobre a pena capital? Envolvem-se nessa questão e exigem mudanças?
Neutralidade cristã
Os genuínos cristãos são diferentes dos clérigos mencionados no início; eles procuram manter em mente um princípio importante: Jesus Cristo disse a seus seguidores que ‘não fizessem parte do mundo’. — João 15:19; 17:16.
Será que o cristão pode obedecer a essa injunção e ainda se envolver no debate sobre a pena de morte? É evidente que não. Trata-se, afinal, de uma questão social e política. Nos Estados Unidos é comum os candidatos a cargos políticos usarem sua posição — contrária ou favorável — na questão da pena de morte como ponto importante de sua plataforma política. Discutem o assunto ardorosamente e usam a intensa carga emocional que ele em geral provoca como arma para fazer os eleitores penderem para sua causa.
A pergunta em que os cristãos têm de ponderar talvez seja: será que Jesus se teria envolvido na controvérsia sobre como os governos deste mundo empunham “a espada”? Lembre-se de que Jesus “retirou-se novamente para o monte, sozinho”, quando seus compatriotas tentaram envolvê-lo na política. (João 6:15) Parece bem mais provável, portanto, que ele teria deixado esse assunto no lugar em que Deus o deixou: nas mãos dos governos.
A exemplo de Jesus, é de esperar que hoje os cristãos tomem o cuidado de não se envolver em debates sobre esse assunto. Eles reconhecem que os governos têm o direito de fazer o que querem. Mas, como ministros cristãos que não fazem parte do mundo, eles nunca declarariam que apóiam a pena capital nem promoveriam sua revogação.
Eles têm presentes as palavras de Eclesiastes 8:4: “A palavra do rei é o poder do controle; e quem lhe pode dizer: ‘Que estás fazendo?’” É evidente que os ‘reis’, ou governantes políticos, do mundo receberam o poder de fazer cumprir sua vontade. Nenhum cristão tem a autoridade de repreendê-los. Mas Jeová pode fazê-lo; e o fará. Graças à Bíblia, esperamos o dia em que Deus finalmente fará justiça por todo crime e por todo tipo de abuso cometidos pela “espada” no mundo de hoje. — Jeremias 25:31-33; Revelação 19:11-21.
[Nota(s) de rodapé]
Por exemplo, o sistema penitenciário norte-americano é criticado por executar, todo ano, menos de 2% dos criminosos que estão no corredor da morte. Mais deles morrem de causas naturais do que são executados. Existem também acusações de preconceito — visto que as estatísticas sugerem que um assassino tem mais probabilidade de ser sentenciado à morte se a vítima era branca do que se a vítima era negra.

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